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Crítica: Trocando os Pés

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Quem calça o sapato é que sabe onde ele aperta.

por Márcio Sallem

Trocando os Pés

2estrelas

A rigor, Trocando os Pés é a história de origem do primeiro super-herói interpretado por Adam Sandler, o desiludido sapateiro Max Simkin, que, enquanto assiste ao mercado imobiliário avançar ferozmente sobre os pobres moradores do bairro de periferia onde tem sua loja, descobre poder ser quem ele quiser ser, desde que calce os sapatos de seus donos, “enfeitiçados” por uma antiga máquina de costura. Porém, as possibilidades cômicas da premissa não se concretizam na comédia escrachada que os fãs do ator aguardavam; pelo contrário, a narrativa percorre um caminho dramático bem evidente, apesar de haver momentos bem-humorados e da insistência do pôster nacional em vendê-la pelo que não é. Na verdade, Trocando os Pés é uma situação comercial embaraçosa, pois não agradará ao público-alvo de Adam Sandler, nem tampouco atrairá o espectador-médio, mas trata-se de um avanço significativo na carreira do ator quando comparado com os trabalhos mais recentes que eu vi (os pavorosos Gente Grande, Cada um tem a Gêmea que Merece e Este é o Meu Garoto).

Co-escrita e dirigida por Thomas McCarthy (de Ganhar ou Ganhar – A Vida é um Jogo), a narrativa não deixa dúvidas de sua pretensão dramática: as cores pálidas da fotografia e o desmazelo no design de produção da loja remetem à carga pesada que Max carrega desde que seu pai abandonou a família, deixando-lhe como heranças a sapataria e Jimmy (Steve Buscemi), o dono da barbearia ao lado e que assume a função de figura paterna. Atrás do balcão, Max sonha acordado com a vida de outras pessoas, antes de retornar ao marasmo de indiferença que é a sua. Isto muda ao descobrir seu “superpoder”, mas como certamente não lia os gibis do Homem-Aranha, começa a utilizá-lo ingênua, imoral e irresponsavelmente. Somente após enxergar as consequências de seus atos, Max resolve empregar o recém adquirido dom para defender o bairro da impiedosa Elaine Greenawalt (Ellen Barkin), que planeja desapropriar os moradores de suas casas e construir condomínios de luxo.

Se por um lado dá gosto ver Adam Sandler trabalhando com o que tem de melhor, a sua personalidade introvertida e derrotista que sua fisionomia traz à cena, por outro, Thomas McCarthy não consegue estruturar a narrativa para aproveitá-lo da melhor forma possível e termina com duas metades bastante diferentes entre si: um drama cabisbaixo e tocante sobre um filho encontrando uma maneira de reaproximar-se das figuras paternas e uma aventura atrapalhada e desconjuntada estrelada por um sapateiro bobão (coisa que Max NÃO é), em busca da autoafirmação e de conquistar Carmen (Melonie Diaz). Enquanto estas porções disputam entre si pela coroa da narrativa, a trilha sonora de John Debney e Nick Urata mantém-se uniforme por toda a duração do longa, desastradamente introduzindo sons apropriados a comédias em cenas dramáticas e vice-versa.

Apesar disto, há instantes cômicos eficientes, como vestir o sapato de alguém falecido, e mesmo quando o humor entra no território dos estereótipos – todos sabem os crimes contra a humanidade que Adam Sandler costuma praticar nesta hora -, não há nada crasso a ponto de ser ofensivo. Mas não é o bastante para que a narrativa aprofunde-se nas muitas possibilidades sugeridas pela premissa, assim como responda senão de forma desinteressante o dilema existencial proposto: todos sabemos que a grama do vizinho NÃO é mais verde que a nossa e devemos cuidar de viver a nossa própria vida, não a dos outros. A propósito, a considerar todo o terceiro ato, a sua revelação “surpreendente”, o clichê usado para incriminar a vilã e a importância em consumir picles, o roteiro de Thomas McCarthy e Paul Sado deve estar achando que o público é estúpido para engolir justificativas tão rasas para o que foi apresentado.

Quer saber? Embora não seja tapado, não sou masoquista em empurrar Adam Sandler de volta às comédias grosseiras sempre bem colocadas, ano após ano, nos rankings de piores filmes, no qual Trocando os Pés está longe de figurar.

Trocando os Pés (The Cobbler, 2014). Dirigido por Thomas McCarthy. Roteiro de Thomas McCarthy e Paul Sado. Estrelando Adam Sandler, Steve Buscemi, Dustin Hoffman, Melonie Diaz, Ellen Barkin, Cliff “Method Man” Smith, Sondra James, Dascha Polanco, Lynn Cohen e Kim Cloutier. Duração: 1h 39min. Estreia nos cinemas em 28/05/2015.

Trocando os Pés - 1

Trocando os Pés - 2



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